Tudo começou com um e-mail inesperado da Kika Bradford, presidente da Confederação Brasileira de Montanhismo e Escalada (CBME) me informando que nossa escalada no Paquistão havia sido indicado ao Prêmio Mosquetão de Ouro 2016 na categoria Montanhismo. Nas palavras da CBME:
“O prêmio objetiva incentivar o estilo ético e limpo de ascensões e conquistas de montanhas, trilhas de montanhismo e vias de escalada. Inovação, experiência, respeito e feitos atléticos serão considerados no processo de premiação. Serão premiados atletas e personalidades, em diversas áreas de atuação do montanhismo, que estão empenhados em engrandecer o esporte, explorando os limites do possível em suas respectivas áreas de atuação e ajudando a aperfeiçoar as organizações do montanhismo. O Mosquetão de Ouro é tanto uma celebração de experiências extraordinárias, feitos atléticos, rico em emoção, realizados um ambiente ético e em prol da comunidade montanhista. Categorias O objetivo específico do Mosquetão de Ouro é envolver a comunidade em um debate e premiação das pessoas e instituições que mais se destacaram no montanhismo brasileiro no último ano (com exceção da última categoria), seja com feitos atléticos ou para o aprimoramento da organização do montanhismo. O Mosquetão de Ouro será dividido em seis categorias: a) Montanhismo – incluindo trilhas, travessias e alta montanha, realizado de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2015. Essa categoria privilegia os valores básicos do montanhismo, como a autonomia, o comprometimento e a responsabilidade e o respeito com o ambiente de montanha e a cultura local. Não serão consideradas excursões de caráter marcantemente comercial, onde são utilizados guias e pesadas estruturas de apoio o alcance dos objetivos. b) Escalada – incluindo a escalada de aventura, realizada em livre e artificial, em rocha, mista ou gelo, big wall e conquistas, realizadas de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2015. Essa categoria privilegia o comprometimento, a autonomia, a preparação técnica e psicológica envolvidos no jogo da escalada de parede. c) Escalada Esportiva – incluindo a solução de problemas de boulder, psicobloc e encadenamento de vias esportivas, realizadas de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2015. Essa categoria privilegia, sobretudo a superação de problemas de alta dificuldade técnica, podendo envolver os componentes psicológicos de um highball e um psicobloc. d) Montanhismo e Sociedade – Premia pessoas cujas ações ajudaram a preservar os valores do montanhismo, bem como o seu desenvolvimento e organização. Essa categoria busca privilegiar as ações de caráter nacional, regional ou estadual, pode ser conferido a pessoas, instituições, gestores de Unidades de Conservação, entre outros, desde que estejam ativos entre o período de 01 de janeiro a 31 de dezembro de 2015. e) Montanhismo e ação local – premia pessoas e instituições que realização importantes ações, de caráter local, para o desenvolvimento do montanhismo ou para a conservação ou recuperação de áreas de montanhas. f) Vida na Montanha – Premia montanhistas pelo conjunto da sua obra, suas realizações e dedicação ao montanhismo. “
Finalmente, dia 2 de Maio foi a votação e inacreditavelmente eu e Lee ganhamos! Imenso orgulho e satisfação! Muito obrigado a toda CBME e a todos os que votaram em nossa aventura!
Poeira baixada, preciso confessar que tenho sentimentos conflitantes em relação a tais prêmios. Sim, é uma super massagem no ego receber algo assim, mas eu também tenho um outro lado, formado por auto-crítica e questionamentos pessoais, sempre me lembrando que essa escalada não é nada menos importante ou digna de atenção do que qualquer outra, feita por qualquer outro escalador brasileiro ou internacional. Nossa expedição é absolutamente inútil… A parte boa na verdade, foi a mensagem sutil que ela mandou a alguns “haters” que eu encontrei pelo caminho. Quando comecei a pesquisar e planejar nossa expedição eu fiz o que alguém com a minha limitada experiência faria, fui atrás de gente que sabe mais, dentro e fora do Brasil. Foi uma surpresa receber respostas e dicas de famosos escaladores como por exemplo o Bruce Normand e o Colin Halley, sempre prestativos e atenciosos. No Brasil, infelizmente a coisa foi um pouco diferente. Fiquei com uma estranha impressão de que algumas pessoas não queriam muito dividir "o segredo”. Muito pelo contrário, me disseram que eu deveria estar sofrendo de uma crise de meia idade, que eu era muito inexperiente para algo assim, e que a) sequer chegaríamos ao base camp, b) seríamos provavelmente decapitados, c) ou sequestrados, d) ou iríamos desaparecer em um cravassa, e) ou em uma avalanche... e por aí vai. As respostas encerravam em críticas e questionamentos e, nada de ajuda, conselhos, ou algo que pudéssemos usar concretamente. Felizmente foi diferente…
Esse prêmio é em grande parte da minha esposa. É ela que tem que lidar com minhas obsessões, com as diversas horas fora de casa, e manter tudo funcionando redondo quando eu estou por aí, “vivendo a vida”. Clichê mas verdade absoluta, sem ela isso seria impossível.
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