Artigo publicado originalmente no BlogDescalada em 6 de Novembro de 2012.
Dando sequência a primeira parte do artigo “30 Idéias para apertar o seu passo vertical!“, encerro com outras dicas para ajudá-lo a turbinar suas escaladas.
PARCERIA
14. O FALAR É PRATA, O CALAR É OURO Silêncio é ouro. É tentador ficar de conversa na parada, mas você queimará um tempo precioso dando detalhes minuciosos de como passou pelo crux. Deixe a conversa pra caminhada da descida, esse é uma das horas em que mais se perde tempo. Já gastei muito tempo tirando infinitas fotos, comendo, checando o visual, ... Faça isso enquanto faz a seg do parceiro. Não fique desocupado. Em se tratando de comunicação durante a escalada, mantenha simples e mínima. Em um ambiente alpino onde você muitas vezes não pode ver nem ouvir seu parceiro, qualquer coisa além pode causar confusão. Limitando-se ao básico você sempre saberá o que está acontecendo, e não irá perder tempo com desentendimentos. Quando o seu parceiro assume a liderança, sua única opção é dar seg e esperar. Não há porque perguntar como ele está indo, se está difícil, ou fácil. Gritaria incomoda os outros, incomoda os animais e incomoda a natureza. Se as condições não permite o uso de voz, você irá precisar outra forma de sinalizar, como por exemplo puxões na corda - é bom combinar e praticar antes!
15. MOVER-SE JUNTO Isso é algo que se desenvolve com experiência, então praticar muito em terreno fácil é o ideal. Habilidade e confiança irão ditar que tipo de terreno vocês preparados para se mover junto, e a natureza do terreno irá influenciar no comprimento de corda entre a dupla. Tudo é uma questão de compromisso – você nunca estará 100% seguro, mas a idéia é que estará mais seguro do que se estivesse solando, e mais rápido do que se estivesse escalando proteção à proteção. Em ambiente alpino existem situações em que o comprimento da cordanão é suficiente para permitir que o seu parceiro chegue a parada, ou o local que permite montá-la está um pouco mais acima. Nessas circunstâncias pode ser necessário que o seg seja forçado a mover-se junto com o líder por alguns metros, até que o líder possa fazer-se seguro. Fique atento a esse tipo de situação e planeje como sinalizar esse tipo de situação.
16. A REGRA DOS 5 MINUTOS
Esse é uma idéia tirada da escalada em big wall. O líder irá gritar “5 minutos!” quando estiver chegando a parada de forma a alertar o seg para ir se
preparando - vestir a sapata, guardar qualquer coisas que esteja fora da mochila, etc. O ideal é o seg estar pronto pra subir assim que a corda ficar tensa. 17. GUIE EM BLOCOS Em vias longas, considere guiar em blocos. Essa técnica é envolve a mesma pessoa guiar 4 ou 5 cordadas de uma vez, antes de alternar a liderança com o parceiro. Mentalmente, 4 ou 5 blocos são mais fáceis de lidar do que 25 trocas de líder porque o líder pode ficar totalmente focado no seu bloco, e o segundo pode relaxar e descansar por algum tempo. O líder pode estudar e preparar-se mentalmente para a próxima cordada, o que pode acelerar a navegação. 18. PASSANDO A TRALHA Na parada, mantenha a troca de equipamentos rápida e eficiente. Três minutos poupados em cada troca irão poupar uma hora em uma via com 20 cordadas, o que pode ser a diferença entre cervejas na cidade ou a noite sentado no parapeito. Um gear-loop ou uma fita podem ser útil pra passar as peças. Se cada escalador levar uma fita e colocar as peças de maneira organizada conforme limpa a cordada, na parada tudo o que ele precisa fazer é passar o molho para o líder, que pegar o resto das peças que faltam e logo está pronto pra subir. O gerenciamento de corda também é crucial, e se você estiver guiando em blocos a corda precisará ser re-rempilhada de forma que a corda do líder esteja novamente pra cima. Com um pouco de prática (e ajuda de um auto-blocante) você pode começar a re-empilhar a corda assim que o segundo estiver cerca de 5-10m abaixo de você. Quando ele chegar a maior parte da corda estará organizada, com apenas os últimos metros deixados do “lado errado” e separados em outra pilha. Quando se sobe alternando a liderança, as transições são o que mais consomem tempo. O objetivo é ter todo o time em sincronia, com escaladores trabalhando juntos para manterem-se movendo.
19. NAVEGAÇÃO
Adote bom senso quando estiver procurando a rota. Aqui na Inglaterra por exemplo, os guidebooks são ultra detalhados, descrevendo cada metro da via. Nos Alpes, é o contrário, eles podem acomodar um quilômetro vertical inteiro em um único parágrafo. Use a informação para ajudá-lo, mas esteja pronto para dar um passo para trás e se perguntar “se eu estivesse abrindo essa via, por onde seguiria?”. Isso quase sempre resolve problemas de navegação. Cinco minutos de exploração podem salvar horas de tempo subindo e descendo a linha errada.
20. O CAMINHO TRAÇADO APENAS CONDUZ PARA ONDE FORAM OS OUTROS Especialmente durante a alta temporada, as chances de você estar compartilhando uma via com mais gente são grandes. Eles podem estar na sua via, mas também podem estar indo para outro lugar, eles podem até mesmo e
star perdidos e indo para o lugar errado. Confie no seu instinto. Use o “rastro” apenas como forma de se orientar e facilitar sua escalada, mas não fique obcecado a ponto de parar de checar seu topo e seguir os outros cegamente.
21. GUIAR-SE POR PROTEÇÕES PRÉ COLOCADAS
Não fique obcecado com proteções pré-colocadas. Não encerre a cordada prematuramente, só porque você encontrou uma parada - fitas ou pitons por exemplo - no meio do caminho. Muitas vezes eu assumi, apenas porque passei por um bloco equipado com cordeletes e bolts, que a cordada terminava naquele ponto ao invés de esticar mais a corda e ganhar alguns metros, perdendo tempo.
22. ESCALE TODA A CORDA
Tenha uma imagem mental do que são 60 metros, ou do tamanho da sua corda. Aprenda a “saber” o quanto de corda extra você ainda tem, e procure sempre utilizá-la ao máximo. Cordadas esticadas resultam em menos cordadas, menos tempo trocando tralha, mais rapidez na subida. Combine com seu parceiro para que ele te avise quando você alcançar o meio da corda e os últimos 10 ou 5 metros por exemplo.
23. SE HESITAR, IRÁ ATRASAR
Se o movimento parece muito difícil, ficar parado analisando não irá fazê-lo mais fácil. Medo, hesitação, pensar em excesso, tudo isso custa tempo, deixa bombando e gasta energia. Avalie o estado de suas proteções, avalie se o medo é real, e aja de acordo. Muitas vezes você está seguro mas ainda assim hesita por medo de cair, ou pelo simples incômodo da exposição. A prática regular da escalada/montanhismo, e a busca por escalar no seu limite (e cair) irão facilitar o processo de tornar-se um escalador mais decidido.
ROUPAS
24. MENOS É MAIS
Tirar e colocar roupas demanda tempo e antecipar é a melhor forma de poupar tempo. Se você está diante de uma longa caminhada, saia do abrigo com menos roupa, passe um pouco de frio, e poupe ter que tirar sua jaqueta quinze minutos pra frente, quando você estiver fervendo. Esse mesmo raciocínio se aplica para outros equipamentos como por exemplo comida e água.
25. FIQUE CALÇADO
Continuar calçando a sapatilha entre as cordadas irá poupar um tempo. Não existe nada mais irritante do que escalar com alguém que te faz esperar toda vez para vestir a sapata. Quando você vai escalar, independentemente de estar guiando, fazendo seg, ou fazendo nada, é sua responsabilidade estar pronto quando seu parceiro chamar.
PROTEÇÕES
26. PROTEGER EXCESSIVAMENTE Evite colocar mais proteção do que você realmente precisa, sob a falsa crença de que a de baixo irá falhar, mesmo sabendo que ali está um sólido nut. Se a cordada está ficando difícil, obviamente que você precisa proteger mais, porém, muitas vezes é interessante puxar um pouco e achar um lugar mais conveniente e confortável para colocar a próxima peça. O segredo é aprender quando sua proteção é boa ou não, e isso vem com experiência. 27. APRENDA A COLOCAR PROTEÇÕES BOMBA RAPIDAMENTE Se você quer escalar rápido, precisa aprender a colocar proteções sólidas rapidamente. O mesmo vale para montar paradas em vias tradicionais. Parte de se estar seguro ao escalar rápido é ter conhecimento, experiência e julgamento para avaliar a confiabilidade das suas peças. 28. USE FITAS PARA ANCORAGENS RÁPIDAS Se estiver fazendo várias cordadas em esportiva, é interessante deixar prontas as fitas para as ancoragens. Monte duas fitas, cada qual com dois mosquetões de rosca nas extremidades, e clipe-os como uma costura alpina na sua cadeirinha junto com dois outros mosquetões sem rosca. Ao chegar à parada, tudo o que você precisa fazer é clipar cada um dos mosquetões em um bolt, fazer a “magic x”, e clipar os dois mosquetões sem rosca no ponto mestre do seu “magic x”. Esse set-up também function perfeito para vias tradicionais onde as paradas tem chapeletas. Você também pode usar duas costuras para efeito similar, mas é recomendável usar ao menos um mosquetão de rosca conectado ao ponto central da equalização, ou como ponto principal de clipagem da ancoragem. Em uma via de várias cordadas, em que há várias ancoragens para equalizar, leve um cordelete com os mosquetões de rosca já conectados. Novamente, clipe os mosquetões nas ancoragens, equalize o cordelete e clipe-se ao ponto central com sua daisy. Se quiser adicionar redundância adicional, pode-se clipar um pedaço da corda na ancoragem principal com uma volta do fiel, que é fácil de se desfazer. 29. CAMS AO INVÉS DE NUTS
Carregue um bom rack de camalots, eles são muito mais rápidos de colocar e retirar do que nuts ou hexes. Cams como os da Black Diamond tem um maior espectro de abertura necessitando que você precise levar menor quantidade. Também fique atento para proteções fixas que podem ser usadas rapidamente para proteger ou criar uma parada. Lembre-se sempre de chegar o estado dos pitons, chapeletas e fitas fixas.
30. USE UMA DAISY CHAIN (SOLTEIRA) Usar uma daisy chain para clipar-se a ancoragem poupa tempo na hora de limpar a ancoragem e trocar a tralha. Isso é recomendável apenas para escal
adores experientes que conhecem seus sistemas de segurança e limitações. Se você está começando, é interessante clipar-se a ancoragem com a corda antes de fazer a segurança de seu parceiro. A daisy, especialmente as mais antigas, pode ser perigosa se usada incorretamente. Se em uma via de várias cordadas a sua primeira proteção for a prova de bomba, você pode clipar sua daisy nela e rapidamente começar a dar seg, enquanto se encarrega de colocar proteções extras e equalizar todo o sistema com uma fita ou cordelete. Atenção, isso pode ser perigoso!
REFERÊNCIA / BIBLIOGRAFIA
Speed Climbing!, 2nd: How to Climb Faster and Better (How To Climb Series), Hans Florine (Author), Bill Wright (Author) Climbing.com, Seções ‘Skill’ e ‘Tech Tips’
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